Gosto de filmes onde as cidades são
personagens. Nova York é um personagem clássico da sessão da tarde dos anos
noventa. São Paulo e Rio São os nossos icônicos mais vendidos. O som ao redor
tem o Pernambuco.
Salvador tem a vivacidade dessas
cidades. Em São Paulo me senti acolhida de cara. Parecia fazer parte daquele
tecido enorme. Uma rede enorme em que cada um vive em seu cluster. Claro que eu
estou romantizando as cidades. Mas não posso personificá-las sem passar pelo
romance.
Salvador foi mais difícil de
entender. Ela nunca foi fácil. Depois de três anos aqui começo a me sentir em
casa. Entendo que essa cidade que vive de simbiose entre o novo e o velho. Fui
a pé no Bonfim, cruzei o Rio Vermelho perfumado no dois de fevereiro. Apontei
para cada azulejo antigo em Ondina. Vi o caos do Imbuí. Vivi o caos.
Não é exagero ao citarem Salvador
lembrarem logo do seu sincretismo religioso. A energia aqui é forte. Mas minha
experiência foi alterada principalmente porque agora tenho Gil e Caetano nos
fones de ouvido. A minha viagem atravessando a cidade faz muito mais sentido.
O mar daqui. A força dos orixás. Essa
pobreza. Essa força. O engarrafamento. Entendo tudo. Tudo fica claro. Ouvir Caetano aqui faz mais sentido. Muito mais. "por mais distante o errante
navegante quem jamais te esqueceria". A frase é vaga, mas no meu percurso
sentada ao lado do mar no ondina-imbuí fica clara, claríssima: a Bahia tem um
jeito.