quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Lá fora choveu poesia


Quero continuar defendendo a poesia sem parecer uma hippie tardia que a minha idade já não permite. Poesia no sentido de tudo que desperta e provoca sentimentos. Mas tenho essa obrigação horrorosa de não parecer boba, nem ingênua.

Sempre que leio uma dissertação de mestrado ou tese de doutorado acho bonita a poesia que vem na frase de citação da capa ou escondida nos agradecimentos. Mesmo no emaranhado de nomes desconhecidos existe leveza nas palavras que destoam dos conceitos e teorias ali presentes. É como se surgisse um pequeno espaço para florear no meio da dureza acadêmica. Se tem espaço para poesia dentro de uma dissertação ela certamente também cabe em outros lugares.

Eu perdi um amigo, não por morte, mas por afastamento. Foi uma boa amizade que se sustentou por alguns anos e acabou assim como acabam muitos relacionamentos, apenas porque acabam. Esse meu amigo dizia sempre não entender poesia. Ele tentava, mas nunca parecia ter sentido. Sempre lembro disso quando penso no fim da nossa amizade. Existem pessoas que não entendem poesia. Deve ser a mesma inabilidade que eu tenho com a matemática, com a lógica.

Porque a gente nunca é muito estimulado a sentir coisas sobre objetos, criações, textos. Um pouco desse sentido não faria mal aos não vocacionados à poesia. Assim como o meu raso conhecimento de matemática faz bem ao meu dia-a-dia. Mas isso talvez apenas seja conversa de esquerda-fofa-super-light, ou papo de quem perdeu um amigo, ou quem aprendeu que o sentido da poesia se cria.

Ilustração Kathrin Honesta