sexta-feira, 28 de agosto de 2015

As 10 coisas mais legais de Portugal

Alfama à meia-noite
1. As Ruazinhas de Alfama
Alfama está para Lisboa como o Pelourinho está para Salvador. Lá você encontra o exótico, histórico e caricato, ou seja, é excelente para turistas. O bairro é bem simpático, com ruazinhas labirínticas, janelões enormes e roupas penduradas nas janelas. Aliás, nunca vi tanta roupa pendurada e nunca achei roupa pendurada algo tão bonito. Tem senhorinhas robustas e conversadeiras nas janelas também. De noite tem restaurantes com fado e decoração brega, flores vermelhas de plástico, toalhas vermelhas, mas você perdoa porque a comida é boa, aliás, a comida...

2. Comida
Sobre a comida o que tenho a dizer é: bacalhau à Brás, sardinha, polvo à lagareiro, bacalhau à natas, pastel de Belém, pão, queijo, vinho do porto, feijoada à portuguesa, batatas, cachorros, ginjinha.

3. Jeito metódico, cartesiano, literal
Durante o pedido da comida você descobre que as pessoas tem um jeito metódico de trabalhar. Se um garçom atende uma mesa ele continua firme no propósito de anotar o pedido e levá-lo até a cozinha o que impede que no meio do caminho ele possa lhe entregar o menu, por exemplo.

4. As divergências da língua
A jornalista Andreia Vale disse que o português do Brasil é português com mel. Bom, eu tenho minhas dúvidas já que lá existem os diminutivos mais fofos, é “preciso andar um bucadinho”, ouvi no jornal que “caia uma chuva miudinha”. Diz se não é muito amor? Também gosto da falta de gerúndio, eles colocam “A” antes do verbo de uma maneira que evita o gerundismo, estão sempre “a fazer, a caminhar”.

Vista do Miradouro de Santa Catarina
5. O Tejo e os miradouros
Enquanto estiver “a caminhar” pela cidade tem os miradouros, são muitos e a maior parte deles tem vista para o Tejo. O Tejo é um rio enorme, mas desculpem, eu internalizei que ele era o mar, eu sei que não é. Mas quando eu ficava parada olhando o horizonte a esmo, eu estava olhando o MAR.  


6. Cabo da Roca
Falando em mar, continuo até hoje sem palavras para explicar esse lugar. É lindo. Você entende porque acreditavam que o mundo era quadrado. É o ponto mais ocidental da Europa continental e a frase de Camões no monumento lá posicionado explica bem o que eu não sei dizer: “aqui... onde a terra se acaba e o mar começa”.


7. Cascais
Pra continuar falando de mar, areia, tem Cascais, uma vila portuguesa que faz parte do distrito de Lisboa. Cascais não é melhor que nenhuma praia brasileira. Mas lá as pessoas estendem toalhas velhas na areia, metade delas liam algum livro e havia senhorinhas de 60 anos de boas na areia. Embora a melhor foto que o namorado tirou em Cascais não seja propriamente de uma senhorinha, mas vamos mudar de assunto, ou melhor, voltar pra senhorinhas. 


8. Viseu
Sobre senhorinhas, quando for uma senhorinha de 60 anos queria morar numa cidade como Viseu. Ela é pequena e charmosa e parece uma cidade ótima para ser velho. Viseu foi eleita algumas vezes como a melhor cidade pra se viver do país e está entre as vinte primeiras da Europa. Em Viseu também acontece a Feira de São Mateus. É uma feirinha com cara de interior, assim como a cidade, tem barraquinhas de churros, parque para crianças e umas luzinhas super fotogênicas.

9.Feira da Ladra
Sobre feiras, em Santa Clara acontece às terças e sábados a Feira da Ladra. Uma feira popular que impressiona pela quantidade e excentricidade de coisas velhas e inusitadas. Máquinas fotográficas antigas, sapatos, bonecas, louça nova ou quebrada. Toda a sorte de objetos. Com paciência se consegue garimpar coisas legais por lá :)
 
Museu Nacional do Azulejo
10. Azulejos
Bom, eu sou louca por azulejos, queria muito vê-los lá onde é a terra deles. Em Salvador eu sempre grito, olha lá um azulejo. Nos primeiros dias eu apontei, mas eram tantos e de vários formatos que eu "quase" enjoei, mas só quase, ainda continuo apaixonada por eles e com vontade de roubar alguns para um dia colocar em uma cozinha (: 

Fotos do namo/fotógrafo/gênio André Vinícius, tem fotos mais legais no blog dele.

O milagre de toda gente


Estou muito perto de concluir que a coisa mais interessante desta vida é gente. Gente é um acontecimento. Eu gosto das solares e que às vezes parecem parir o mundo enquanto conversam. Gente que é feliz e um pouco triste pela consciência de si e da finitude das coisas. Gente nunca é uma coisa só, algumas vezes pela força do hábito se tornam monotemáticas e chatas.

Não à toa um dos meus gêneros favoritos no jornalismo é a entrevista. Acho bonita a capacidade de saber perguntar e calar existindo ao mesmo tempo. Na minha passagem pela faculdade de jornalismo aprendi como o ofício de fazer boas perguntas é complexo. Essa semana vi o documentário José e Pilar e uma das queixas de Saramago é a falta de propósito de tantas coletivas de imprensa que faziam sempre as mesmas perguntas. Quando o seu interlocutor parecer chato ou enfadonho repense um pouco suas perguntas.

Tem gente que quando fala ou escreve me deixa muda. Mas muda por fora. Cá dentro surge uma confusão de pensamentos com tamanha aparição. É uma mistura de êxtase com a calma da contemplação das palavras que brotam. É a vontade de ficar ali, continuar estando, existindo e acompanhando o pequeno milagre de enfileirar palavras tão bem.

Já que falei em milagre e tenho por nascimento e pertencimento a capacidade de acreditar em milagre. Acredito que essas pessoas que conseguem surpreender e calar também sejam pequenos milagres. E esses milagres estão por aí, acontecendo todo tempo. Mas delego a capacidade da existência do milagre não ao milagre em si, mas aos olhos do devoto. Algo como aquele ditado popular “não mostre sua poesia pra quem não é poeta”.

É isso, é isso que tento dizer desde o início do texto. É preciso haver poesia. Porque poesia é amor. E é amor mesmo quando fala apenas da dureza da vida. E tem gente que é poesia. E tem gente que é poesia bruta. Gente que me faz acreditar em milagres. Que faz ver deus em toda parte. O deus que vive e é toda gente. Sim, gente é a coisa mais interessante que existe. Mas é preciso haver amor, é preciso ter poesia. É preciso saber perguntar, ouvir e calar. É preciso acreditar em milagres.  

Ilustração Lizzy Stewart