Gosto muito de gente que consegue falar bem sobre o
próprio umbigo. Que consegue criar
uma narrativa interessante sobre si mesmo. É assim com os filmes do Woddy
Allen, com a Lena Dunham da série Girls e também com o livro de crônicas da
Maria Ribeiro. É necessária uma intensa consciência de si para fazê-lo.
A crônica de abertura de Trinta e
Oito e Meio é sobre a dificuldade de ficar nua. Como se abrir tantas camadas
naqueles textos também não fosse se despir. Foi a imperfeição de Maria que me
impressionou. O amor pelos seus rebentos como ela gosta de dizer. Maria está
lá. E não digo de um exibicionismo forçado, é que em tempos de redes sociais o
exibicionismo ganhou contornos estritamente levianos.
Claro que ela força o
personagem, faz anti-propaganda o tempo inteiro, repete seus defeitos, não
gosta de verão, ano novo, mas diz isso da melhor maneira “um ser
que encontrou a plenitude na calça jeans”.
O livro é pequeno, tanto na
quantidade de páginas como na sua estrutura.
Os texto são intercalados por páginas rosas, só consegue usar rosa sem traço de
meninice quem chutou o balde da falsa maturidade há tempos. Um dia eu chego lá.
Ele é todo recheado de ilustrações da Rita Wainer, são todas bonitas, menos o
coração flechado da capa. Achei brega, mas talvez seja algo da falsa maturidade e eu que não entendi nada.
O recurso de negar-se é importante no
processo de dar genialidade a algo. Aqui, no caso, a Maria. Que diz de maneira
enfática que não é gênia, que faz uma lista de desejos do seu
eu perfeito. Mas, por favor, Maria, tenha dó. Me deixa te admirar um
pouco, vai.