quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

O Apanhador no Campo de Centeio

Hoje terminei O Apanhador no Campo de Centeio escrito pelo americano J. D. Salinger em 1951. É a segunda vez que tento lê-lo e até a metade do livro demorou para a leitura fluir. Tem tempo que tento ler livros “clássicos”, primeiro porque sempre fazem referências a eles e a probabilidade de ser um bom livro é bem alta. A sensação ao terminar a leitura foi de uma pequena frustração, sempre comentaram que o final era espetacular e me enchi de expectativa para ele que simplesmente não aconteceu.

A história é contada em primeira pessoa por Holden Caulfield. Esse talvez seja o maior mérito do livro, parece uma obviedade, mas o relato é extremamente pessoal. O que me incomodou logo no início que era o uso exagerado de expressões como “no duro” “e tudo” ou “coisa que o valha”, mas elas ajudam a criar esse sentimento de relato pessoal imersivo. 

Caulfield perdeu o ano novamente no colégio interno para garotos onde estudava e vai ser expulso. Decide sair de lá quatro dias antes do fim do ano letivo e fica perambulando em hotéis, bares e cafés de Nova Iorque enquanto seus pais ainda não receberam a notícia. Durante esses dias ele procura vários conhecidos tentando estabelecer um diálogo “verdadeiro” ou diminuir sua culpa e solidão, o que raramente acontece. O mundo, como ele diz, está cheio de cretinos, a superficialidade o incomoda muito. O cinema para ele é a pior das artes porque é uma arte falsa, fantasiada.

Gostei muito do personagem principal, da maneira como ele foi construído, um garoto comum, cheio dúvidas e medos, com dificuldade de se adequar ao universo adulto, de escolher uma carreira. Não se imagina em nenhuma profissão comum. Ele transmite o sentimento adolescente de incompreensão diante do mundo, como o colégio é um lugar difícil e inadequado muitas vezes e a dificuldade de se estabelecer como indivíduo dentro dele.

O livro lembrou discussões de uma disciplina que cursei no sexto semestre, estética da comunicação, se não me engano. “O que é um clássico? Quais elementos uma obra precisa ter para ser considera um clássico?” Obviamente eu não tenho as respostas para todas essas perguntas. Uma das coisas que lembro é que a experiência causada pela obra ajuda no processo de compreender o que é ou como surge um “clássico”.  Talvez entenda O Apanhador como um clássico por essa inquietação que ele me causou, o sentimento de desajuste do Holden Caulfield, esse relato pessoal e triste e de um realismo tocante. É um livro sobre crescer, perder a inocência ou como a vida comum pode ser tão difícil.