segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Marias

Eram duas solteironas, mãe e filha. As duas tinham uma aparência desconcertante e pegajosa. Extremamente pobres por pura convicção e capricho. Não se sabe como a mãe engravidou. Apareceu grávida e pronto. Do pai nada se ouvira. A menina herdou dela o olhar nervoso e a vocação para igreja neo pentecostais. Elas não encarnavam a figura das beatas católicas. Eram lhes conferidos alguns luxos e uma vida de menos penitências. Com o tempo o olhar nervoso se agravava.  Os olhos se esbugalham. A mãe nunca explicou sobre o pai. Seguiam como Maria, a virgem, mãe de Jesus. Elas seriam eternamente virgens. Porque é no gozo que o demônio se aproxima. E elas como boas cristãs haveriam sempre de temer o demônio, como bradou o pastor. Para diminuir a pobreza e gastar o tempo elas inventavam pequenas costuras que os parentes mais abastados compravam para esconder nas gavetas. Acreditavam principalmente que deus proveria a próxima cesta básica. No natal elas chegavam aos montes. Nesse período redobravam sua fé. 

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