segunda-feira, 1 de julho de 2013

Rita Apoena

(Foto Rita Apoena)

 "Não é que o mundo seja só ruim e triste. É que as pequenas notícias não saem nos grandes jornais. Quando uma pena flutua no ar por oito segundos ou a menina abraça o seu grande amigo, nenhum jornalista escreve a respeito. Só os poetas o fazem." Rita Apoena

Eu tinha dezesseis anos quando encontrei um poema da Rita Apoena numa comunidade do Orkut. Fiquei apaixonadíssima pelos textos dela. A poesia da Rita é simples, cheia de ternura e esperança.
Na época ela escrevia um blog chamado Jornal das Pequenas Coisas. Infelizmente o blog foi excluído, em 2009 reencontrei a autora no twitter, mas que também foi excluído. Hoje não conheço nenhuma página que seja mantida por ela.
Por sorte existem muitos fragmentos e citações espalhados por blogs e tumblrs  Já li que ela estava preparando um livro, mas não consegui confirmar a informação.
Só sei que ficaria extremamente feliz com um livro da Rita ou um novo blog com textos inéditos.

“Mariana lambeu as lágrimas que escorriam, 
manchando a língua de tristezas, 
Quando o vazio é muito grande,
as lágrimas são transparentes”.

"Instruções para se apaixonar 
Encha o peito com mais de trezentos suspiros,
quando estiver bem levinho,
solte as amarras
e flutue."

"Sim, eu sei. 
Pode parecer maluquice, 
mas eu vou mesmo desparafusá-las 
e arremessá-las no jardim. 
Mesmo que elas não possam voar, 
ficarão entre as flores, 
o devido lugar de borboletas paralíticas. 
Não suporto mais essa idéia de abrir a janela, 
levantar os vidros e vê-las ali, 
disfarçadas de dobradiças."

"— E você, por que desvia o olhar?
(Porque eu tenho medo de altura. Tenho medo de cair para dentro de você. Há nos seus olhos castanhos certos desenhos que me lembram montanhas, cordilheiras vistas do alto, em miniatura. Então, eu desvio os meus olhos para amarra-los em qualquer pedra no chão e me salvar do amor. Mas, hoje, não encontraram pedra. Encontraram flor. E eu me agarrei às pétalas o mais que pude, sem sequer perceber que estava plantada num desses abismos, dentro dos seus olhos.)
— Ah. Porque eu sou tímida."

"Mas a poeira é só a vontade que o chão tem de voar."

Quando eu saí de uma importante depressão, eu disse a mim mesma que o mundo no qual eu acreditava deveria existir em algum lugar do planeta. Nem se fosse apenas dentro de mim... Mesmo se ele não existisse em canto algum, se eu, pelo menos, pudesse construi-lo em mim, como um templo das coisas mais bonitas em que eu acredito, o mundo seria sim bonito e doce, o mundo seria cheio de amor, e eu nunca mais ficaria doente. E, nesse mundo, ninguém precisa trocar amor por coisa alguma porque ele brota sozinho entre os dedos da mão e se alimenta do respirar, do contemplar o céu, do fechar os olhos na ventania e abrir os braços antes da chuva. Nesse mundo, as pessoas nunca se abandonam. Elas nunca vão embora porque a gente não foi um bom menino. Ou porque a gente ficou com os braços tão fraquinhos que não consegue mais abraçar e estar perto. Mesmo quando o outro vai embora, a gente não vai. A gente fica e faz um jardim, qualquer coisa para ocupar o tempo, um banco de almofadas coloridas, e pede aos passarinhos não sujarem ali porque aquele é o banco do nosso amor, do nosso grande amigo. Para que ele saiba que, em qualquer tempo, em qualquer lugar, daqui a não sei quantos anos, ele pode simplesmente voltar, sem mais explicações, para olhar o céu de mãos dadas"
Rita Apoena