(Foto Rita Apoena) |
"Não é que o mundo seja só ruim e triste. É que
as pequenas notícias não saem nos grandes jornais. Quando uma pena flutua no ar
por oito segundos ou a menina abraça o seu grande amigo, nenhum jornalista
escreve a respeito. Só os poetas o fazem." Rita Apoena
Eu
tinha dezesseis anos quando encontrei um poema da Rita Apoena numa comunidade
do Orkut. Fiquei apaixonadíssima pelos textos dela. A poesia da Rita é simples, cheia de ternura e esperança.
Na
época ela escrevia um blog chamado Jornal das Pequenas Coisas. Infelizmente o
blog foi excluído, em 2009 reencontrei a autora no twitter, mas
que também foi excluído. Hoje não conheço nenhuma página que seja mantida por
ela.
Por
sorte existem muitos fragmentos e citações espalhados por blogs
e tumblrs Já li que ela estava preparando um livro, mas não consegui
confirmar a informação.
Só
sei que ficaria extremamente feliz com um livro da Rita ou um novo blog com textos inéditos.
“Mariana
lambeu as lágrimas que escorriam,
manchando
a língua de tristezas,
Quando
o vazio é muito grande,
as
lágrimas são transparentes”.
"Instruções para se apaixonar
Encha o peito com mais de trezentos suspiros,
quando estiver bem levinho,
solte as amarras
e flutue."
"Sim, eu sei.
Pode parecer maluquice,
mas eu vou mesmo desparafusá-las
e arremessá-las no jardim.
Mesmo que elas não possam voar,
ficarão entre as flores,
o devido lugar de borboletas paralíticas.
Não suporto mais essa idéia de abrir a
janela,
levantar os vidros e vê-las ali,
disfarçadas de dobradiças."
"— E você, por que desvia o olhar?
(Porque eu tenho medo de altura. Tenho medo de cair
para dentro de você. Há nos seus olhos castanhos certos desenhos que me lembram
montanhas, cordilheiras vistas do alto, em miniatura. Então, eu desvio os meus
olhos para amarra-los em qualquer pedra no chão e me salvar do amor. Mas, hoje,
não encontraram pedra. Encontraram flor. E eu me agarrei às pétalas o mais que
pude, sem sequer perceber que estava plantada num desses abismos, dentro dos
seus olhos.)
— Ah. Porque eu sou tímida."
"Mas a poeira é só a vontade que o chão tem de
voar."
Quando eu saí de
uma importante depressão, eu disse a mim mesma que o mundo no qual eu
acreditava deveria existir em algum lugar do planeta. Nem se fosse apenas
dentro de mim... Mesmo se ele não existisse em canto algum, se eu, pelo menos,
pudesse construi-lo em mim, como um templo das coisas mais bonitas em que eu
acredito, o mundo seria sim bonito e doce, o mundo seria cheio de amor, e eu
nunca mais ficaria doente. E, nesse mundo, ninguém precisa trocar amor por
coisa alguma porque ele brota sozinho entre os dedos da mão e se alimenta do
respirar, do contemplar o céu, do fechar os olhos na ventania e abrir os braços
antes da chuva. Nesse mundo, as pessoas nunca se abandonam. Elas nunca vão
embora porque a gente não foi um bom menino. Ou porque a gente ficou com os
braços tão fraquinhos que não consegue mais abraçar e estar perto. Mesmo quando
o outro vai embora, a gente não vai. A gente fica e faz um jardim, qualquer
coisa para ocupar o tempo, um banco de almofadas coloridas, e pede aos
passarinhos não sujarem ali porque aquele é o banco do nosso amor, do nosso
grande amigo. Para que ele saiba que, em qualquer tempo, em qualquer lugar,
daqui a não sei quantos anos, ele pode simplesmente voltar, sem mais
explicações, para olhar o céu de mãos dadas"
Rita Apoena